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SERÁ PRECISO TIRAR JESUS DO CAMINHO

La Sagrada Familia de Kelly Latimore
La Sagrada Familia de Kelly Latimore

Até quando os cristãos vão conseguir carregar Jesus como se fosse um enfeite de bolso? A pergunta parece absurda, quase uma blasfêmia, mas não se iluda: em algum momento ela será inevitável. O cristianismo cresce, se infiltra, conquista espaço político e se comporta como qualquer império, faminto, disciplinado e sem pudor de usar o nome do seu profeta como arma estratégica.


Nos Estados Unidos, Donald Trump, a versão empresarial do messias do capital, posa ao lado do Cristo Redentor em anúncios pagos com a legenda: “Nós vamos proteger isso.” Proteger o quê? O símbolo? A fé? Ou apenas o lucro político que esse símbolo rende? Nada mais cristão, na lógica deles, que usar Jesus como escudo de marketing.

No Brasil, o espetáculo é ainda mais descarado. A ala cristã, especialmente as igrejas evangélicas, disputa o poder com a sutileza de um trator. A Universal, gigante religiosa e empresarial, foi uma das forças que colocaram Jair Bolsonaro no Planalto. Outras vertentes neopentecostais ocupam cargos, conselhos, espaços e verbas com a fome de quem descobriu que o céu é bom, mas Brasília é melhor.


O nome Jesus segue sendo o trampolim preferido. Mas até quando essa conveniência vai funcionar?

Porque poder não é saciado, ele engorda. E quando engorda, começa a empurrar tudo que atrapalha. Inclusive o Cristo.


A contradição já é barulhenta demais: fala-se em Jesus com a boca, mas se defende o oposto dele com as mãos. Basta observar as posições desses grupos sobre migrantes, pobres, diversidade, direitos sociais, perdão, acolhimento, justiça econômica, tudo aquilo que Jesus defendia com escândalo e insistência. Não precisa teologia: só precisa olhos.


Mas é claro, para não passar vergonha, muitos “líderes espirituais” resolveram trocar de Bíblia. Ignoram o Novo Testamento e mergulham no Velho, onde encontram um Deus severo, militarizado, punitivo, perfeito para justificar guerras culturais e bancadas parlamentares. O Jesus manso, crítico dos ricos e amigo dos indesejáveis é inconveniente demais para quem construiu impérios milionários vendendo prosperidade.


O chamado “cidadão de bem” conseguiu a proeza histórica de atrelar Deus à escravidão, à segregação, ao preconceito, ao acúmulo de riqueza e à manutenção do privilégio. Uma ginástica moral impressionante, e grotesca. E, por favor, ninguém precisa ser especialista para saber que Jesus era inimigo declarado de tudo isso.


E então volta a pergunta: por quanto tempo essa farsa vai se sustentar?

Porque em algum momento alguém vai apontar para o elefante na sala: Jesus não cabe dentro desse projeto de poder. A mensagem dele é um espinho na garganta de quem prega ódio como virtude e ganância como bênção.


E quando o desconforto ficar grande demais, só restará uma saída:

 

Será preciso tirar Jesus do caminho.

 

Sim, vão precisar empurrá-lo para fora da narrativa.Transformá-lo no problema. Reescrever sua história ao contrário. Fazer do Nazareno, pobre, insubmisso, revoltado contra instituições e defensor dos rejeitados, um inimigo da ordem.


Jesus, para essa elite religiosa e política, precisará ser recarimbado como: subversivo, comunista, inimigo da família, vagabundo, maconheiro espiritual, desordeiro, perigo para a prosperidade.

 

E será fácil crucificá-lo de novo, desta vez com nota fiscal, transmissão ao vivo e aplauso das bancadas. Com a bênção da mídia, dos governantes e, tragicamente, dos próprios cristãos.

Porque, no fim, o poder sabe o que faz: se Jesus atrapalha, Jesus tem que sair.



Beto Ehong

Artista, produtor, escritor, radialista

 
 
 

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